Monday, January 31, 2005

30.01.2005

Romance ingénuo de duas linhas paralelas
de José Fanha

"Duas linhas paralelas, muito paralelamente, iam passando entre estrelas fazendo o que estava escrito, caminhando eternamente, de infinito a infinito.
Seguiam-se lado a lado, exactas e sempre a par, pois só num ponto do espaço que ninguém sabe onde é, se podiam encontrar, falar e tomar café!
Mas farta de andar sozinha, uma delas certo dia, virou-se para a outra linha sorriu-lhe e disse-lhe assim: 'Deixa lá a geometria e anda aqui para o pé de mim!'
Diz a outra: 'Nem pensar!!! Mas que falta de respeito! Se quisermos lá chegar, temos que ir devagarinho, andando sempre a direito cada qual no seu caminho!'
Não se dando por achada, fica na sua a primeira. E sorrindo, amalandrada, pela calada, sem um grito... deita a mãozinha matreira e puxa para si o infinito!
E com ele ali à frente, as duas sem murmurar, olharam-se docemente e sem fazerem perguntas, puseram-se a namorar e seguiram as duas juntas:)
E assim, nestas poucas linhas fica uma história banal... com linhas e entrelinhas e uma moral convergente: O infinito afinal, fica aqui ao pé da gente!!!"

Friday, January 28, 2005

laranja azul



... e assim parto para a descoberta de mais um fim-de-semana num Porto frio mas com o aconchego da vida por detrás das portas.
Sábado à noite, quem sabe?, jazz ao som do menino do piano... domingo à noite, teatro no Rivoli com o José Pedro Gomes, o Pedro Laginha e o Carlos Paca numa 'laranja azul'.
E no final de mais uma semana, um sorriso pelos amores perfeitos que recebi...

[por vezes]

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro da noite não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos

David Mourão-Ferreira

[quantas vezes bastaram segundos,
para perder numa noite tantos anos?]

Saudades...

... de acordar pela manhã com a minha sobrinha a querer subir para a minha cama, abraçá-la e dizer-lhe... Buon giorno, principessa!!!

Thursday, January 27, 2005

27.01.1945

"Estamos aqui... no maior cemitério do mundo. Sem sepulturas nem pedras. Mas onde repousam as cinzas de mais de um milhão e meio de seres humanos". E foi assim... 60 anos depois.


"Ó música da morte, ó vozes tantas
e tão agudas, que o estertor se cala.
Ó música da carne amargurada
de tanto ter perdido que ora esquece.
Ó música da morte, ah quantas, quantas
mortes gritaram no que em ti não fala.
Ó música da mente espedaçada
de tanto ter sonhado o que entretece,
sem cor e sem sentido, no fervor
de sublimar-se nesse além que és tu.
Ó vida feita uma detida morte.
Ó morte feita um inocente amor.
Amor que as asas sobre o corpo nú
fecha tranquilas no possuir da sorte."
Jorge de Sena


Entre nós e o passado... o nosso dever lembrar.
Entre nós e o futuro... o nosso dever amar.

Wednesday, January 26, 2005

The story teller...

Espera...

"Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a
maré cheia.
Agitar o seu eterno insulto.
Longamente esperei que o teu vulto
rompesse o nevoeiro."
Sophia de Mello Breyner Andresen

Brumas do Futuro

Foi para o "Capitães de Abril" que o maestro António Vitorino de Almeida compôs esta música interpretada pelos Madredeus... o Pedro Ayres Magalhães juntou-lhe a letra e o resultado foi um hino à coragem!
Na véspera da estreia de uma grande produção da obra de Álvaro Cunhal "Até amanhã, camaradas!" e numa altura em que a pré-campanha para as legislativas nos diverte mais do que nos ocupa... pergunto-me se desde 1974 até hoje o melhor que os nossos políticos souberam fazer foi levar-nos da subversão à aversão e, simplesmente por cansaço de lhes dar crédito, à diversão!
Triste dia afinal... aquele em que já só nos resta rir da "gente pouca... pouca e seca!" que temos por cá!

"Manhã de Abril e um gesto puro coincidiu com a multidão que tudo esperava e descobriu que a razão de um povo inteiro leva tempo a construir..."

Thursday, January 20, 2005

Para nunca mais esquecer...

Quando era criança ficava a olhar horas infinitas para as flores... achava que a minha perseverança seria recompensada por um momento no tempo, só meu, em que podia assistir ao raro momento da entrega de uma flor. E houve um dia em que uma flor se abriu perante os meus olhos...e soube que tinha valido a pena!
Assim é com as pessoas. Hoje foi um desses dias em que percebi que há tanto nos outros para conhecer... e que todo o tempo que passarmos a olhar com atenção é um tempo de raros momentos... um tempo que vale a pena!
Saint-Éxupery escreveu acerca das planícies invioláveis que existem dentro de nós... mas também do significado exacto do tempo que dedicamos a alguém...
"-Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer."
in "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry

[Big Fish]

Nem sempre nos será fácil perceber que aquilo que nos constrói é bem mais do que aquilo que vivemos... mas a verdade é que estamos sempre na demanda de um grande peixe que outros duvidam que tenha alguma vez existido...
Dentro de mim, sempre esperarei pelas coisas assim... sempre haverá um campo de lírios onde aguardar e sempre haverá uma música que dilua os ruídos que me rodeiam...

Talvez a vida seja, afinal de contas... mágica!

Tuesday, January 18, 2005

Don't you know me by now?

"Daydream delusion
Limousine Eyelash
Oh, baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass
Look at those big eyes
See what you mean to me
Sweet cakes and milkshakes
I am a delusion angel
I am a fantasy parade
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from
We have no idea where we're going
Launched in life
Like branches in the river
Flowing downstream
Caught in the current
I'll carry you. You'll carry me
That's how it could be
Don't you know me...
Don't you know me by now"
Before Sunrise, 1995, Richard Linklater

Há dias em que se esgota a memória do que vivemos...
e percebemos que só existiu despedida nos 'adeus' que não dissémos...

Monday, January 17, 2005

MOROI



Moroi: palavra japonesa para fragilidade...