Wednesday, April 27, 2005

(ante)visão

"Torna-se a raposa
num belo principezinho;
noite de primavera."
Yosa Buson (1716-1783)

Sunday, April 24, 2005

[Espiral]

“So it is with You and how You make me new with every season’s change… and so it will be as You are recreating in me – Summer, Autumn, Winter, Spring.” Nichole Nordeman

Por vezes há momentos que parecem conter a vida toda… e esquecemos que em nós como em tudo o que nos rodeia existe algo de cíclico – não propriamente repetitivo mas que sempre nos devolve a um lugar semelhante na espiral do tempo.
Quando ao calor dos sorrisos partilhados e das horas tranquilas se sucede a despedida do que foi e nunca mais será… quando o frio chega para nos convencer da desolação dos dias e da solidão das noites e nos empareda na convicção cinzenta que só permanecendo no interior estamos seguros… quando a vida que um dia provámos parece um fruto maduro esquecido no chão de um verão distante…
… é então que devemos abrir a mão e observar atentamente como ela se deixa novamente habitar – como terra inundada que aos pouco foi secando e amanhece de súbito vestida de verde… é então que os frutos voltam a nascer e voltamos a cuidar deles com a expectativa de sentir um novo sabor – e tal como um sonho que morre às mãos de um novo sonho, o novo sabor reunirá em si a frescura e a abundância que um dia se sonhou provar.

E assim, no final da curva redonda dos desejos mais profundos, haverá sempre a certeza de nos conseguirmos reinventar e voltar a acreditar que a espiral progride no sentido do alargamento… e assim, de cada vez que a vida nos devolver a lugares onde sentimos já ter estado, saberemos que estamos um passo mais longe do que fomos… e um passo mais perto do que seremos.

Friday, April 22, 2005

Poetrias



"Quero fazer contigo o que a Primavera faz com as cerejas." Pablo Neruda

Thursday, April 21, 2005

[Celebração]

Ontem foi dia de celebrar a vida de quatro pessoas muito especiais... companheiros do dia a dia, amigos de tantas e tantas horas e igualmente numerosas circunstâncias. Desde a menina meiguinha e sorridente à amiga sábia e sobretudo presente em todas as minhas manhãs, tardes e noites... do menino sorriso fácil e descontraído ao amigo especial dos lugares incomuns e das horas partilhadas sob tantos e tantos pretextos. A todos vós, Vânia, Ana, Pedro e Vasquinho... fazerem parte dos meus dias é uma das razões porque cada dia se torna uma celebração.

"Porque no orvalho das pequenas coisas, o coração encontra a sua manhã e a sua frescura." Khalil Gibran

Talvez um dia, uma dança...

Valsinha
por Chico Buarque e Vinícius de Morais

Um dia ele chegou tão diferente
do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente
do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida
tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto,
pra seu grande espanto convidou-a pra dançar
E então ela se fez bonita
com há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado
cheirando a guardado de tanto esperar
Depois o dois deram-se os braços
como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça
foram para a praça e começaram a se abraçar
E alí dançaram tanta dança
que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
que toda cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos,
tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu... e o dia amanheceu em paz.

//... porque sempre haverá dias em que tudo muda e alguma coisa em nós se ilumina pela promessa de uma nova dança... porque sempre haverá dias que nascem de uma canção...//

Monday, April 18, 2005

Still dreaming about Paris



April in Paris
Chestnuts in blossom
Holiday tables under the trees
April in Paris
This is the feeling
No one can ever reprise
I never knew the charm of spring
I never met it face to face
I never new my heart could sing
I never missed a warm embrace
Till April in Paris,
Whom can I run to...
What have you done to my heart?

Friday, April 08, 2005

//to-day

Há dias que sempre lembraremos por perpetuarem no tempo uma memória especial... boa ou má. E hoje, apesar de já terem passado três meses da morte de alguém que foi especial para mim, não consigo deixar de lembrar aquele homem, médico, professor, que um dia soube ver o sentimento para lá das breves palavras que lhe dei. Admirava a sua simplicidade, a sua forma grande e humana, a capacidade de mostrar comoção sem temer que lhe atribuíssem por isso características de fraqueza ou pouco dignas num director clínico de um hospital central. Comoveu-se e moveu em mim o desejo de sempre cultivar a capacidade de mostrar a verdade do que sinto... nem que pareça fraqueza...
Há dias que sempre nos vão lembrar a verdade que temos dentro. E hoje são muitas as verdades que encerro... e penso se deverei aprender com o Dr.Alexandre essa capacidade de expressar o tumulto que sinto por dentro.
E porque há dias como o de hoje, pergunto-me porque tinha que ser hoje um daqueles dias em que, coincidência ou não, me vejo aqui... sem ninguém que me diga não ser fraqueza a tristeza que de súbito os meus olhos decidiram denunciar.

''In headaches and in worry vaguely life leaks away and Time will have his fancy... to-morrow or to-day." H.W. Auden

Wednesday, April 06, 2005

grandes navios[águas profundas

"A noite vem às vezes tão perdida e quase nada parece bater certo... há qualquer coisa em nós, inquieta e ferida e tudo o que é fundo fica perto. Nem sempre o chão da alma é seguro, nem sempre o tempo cura qualquer dor... e o sabor a fim do mar que vem do escuro é tantas vezes o que resta do calor.

Se eu fosse a tua pele, se tu fosses o meu caminho...
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho.

Trocámos as palavras mais escondidas que só a noite arranca sem doer... seremos cúmplices o resto da vida ou talvez só até amanhecer. Fica tão fácil entregar a alma a quem nos traga um sopro do deserto... o olhar onde a distância nunca acalma, esperando o que vier de peito aberto.

Se eu fosse a tua pele, se tu fosses o meu caminho...
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho."
Mafalda Veiga