Monday, February 19, 2007

Dueto numa rua do Porto

Hoje acordei com uma súbita vontade de comprar um ramo de túlipas vermelhas...


E enquanto ia para casa com um pequeno pedaço de jardim nos braços, imaginei o Nat King Cole a acompanhar-me num dueto!

"What a day this has been
What a rare mood I'm in
Why?, its almost like being in love!

Theres a smile on my face
For the whole human race
Why?, its almost like being in love!

All the music of life seems to be
Like a bell that is ringing for me!
And from the way that I feel
When that bell starts to peal...
I would swear I was falling
I could swear I was falling
Oh Its almost like being in love!"

Words & Music by Lerner & Loewe

Wednesday, February 14, 2007

Gosto...

(Yann Arthus-Bertrand)

Gosto que me abraces e me faças esquecer os barulhos da rua.

Gosto que as tuas mãos brinquem distraídas com o meu cabelo.

Gosto de te ouvir cantar.

Gosto de te ver dançar no meio da sala; e só eu estou a olhar para ti.

Gosto do cheiro do teu cabelo e do perfume da tua pele.

Gosto do teu sorriso.

Gosto das tuas gargalhadas. Lembram-me um poço de água fresca e uma história para crianças.

Gosto de perder o relógio e ficar a conversar contigo.

Gosto de passear contigo.

Gosto de te levar ao cinema e de te abraçar no escuro.

Gosto de te ver deliciada ao sentir o sabor do doce de abóbora no pão com manteiga.

Gosto de olhar para ti.

Gosto de ver os teus olhos brilhar e perceber que estás feliz.

Gosto de ti!

Thursday, February 08, 2007

[dissecação]

Rodin, "A mão de Deus"


Um Corpo.
Simplesmente um Corpo.
Frio. Vazio.
Um Corpo. Nada mais.

Cruzamo-nos todos os dias com pessoas… e vendo nelas vida, não vemos nelas apenas corpo. Matéria. Pele, músculo, osso. Artéria, veia, nervo. Serosa, parênquima, mucosa. Cápsula, órgão, célula. Membrana, citoplasma, núcleo. DNA, gene, proteína.
Mas hoje, ao entrar naquela sala fria, vazia… um Corpo – e nada mais. Ali deitado como quem espera de olhos fechados, dormindo talvez… um Corpo outrora vivo, outrora gente, outrora pessoa. Agora, apenas Corpo. Matéria. Pele, músculo, osso. Artéria, veia, nervo. Serosa, parênquima, mucosa. Cápsula, órgão, célula. Membrana, citoplasma, núcleo. DNA, gene, proteína.

E ali, em cima da mesa de autópsias, não interessa a sua nudez, não interessa que três dias antes talvez não tivesse recebido um convidado em sua casa sem estar convenientemente apresentável, não interessa que talvez tivesse segredos a esconder – nada nele ficará por observar.
Em breve, a sala continuará fria, mas pouco a pouco chegarão os olhos, os materiais, os papéis. Em breve deixará de ter a forma de Corpo – deixará de ser nome próprio e passará a ser substantivo comum: corpo e não Corpo. E assim será mais fácil olhá-lo, cortá-lo, abri-lo. E envolvidos naquele amontoado de matéria, observando tudo lâmina a lâmina, rapidamente começará a procura de lesões, causas de morte, nexos de causalidade e ficará no esquecimento que aquilo que agora é casa vazia, teve dentro gente, sonhos, fomes, medos, sorrisos, desejos, iras, alívios, malícias, esperanças, dúvidas. O que hoje é corpo, já teve o sopro da vida.
E como é fácil esquecer que é mesmo verdade que sem o sopro divino, não passamos de pó.

Autópsia [do Gr. autopsia - autós, próprio + ópsis, acção de ver - acção de se ver a si próprio...

Corino de Andrade, esse grande médico e pioneiro na descoberta da “doença dos pezinhos”, era bem novo quando percebeu uma verdade que julgo que nunca ao longo da sua vida terá esquecido… dizia ele “Tudo passa nesta vida, o que é sombra já foi luz!”
E hoje, ao chegar a casa e sentindo que tudo em mim doía, recitei baixinho os versos desse poema escrito há muitos muitos anos… “Tudo passa nesta vida.”
Despi-me, olhei o meu corpo no espelho, e tentei interiorizar a verdade do corpo na minha mente… amanhã serei sombra. Hoje sou luz.

Sunday, February 04, 2007

As:Horas


















"Damos festas, abandonamos as nossas famílias para vivermos sós, batalhamos para escrever livros que não mudam o mundo apesar das nossas dádivas e dos nossos imensos esforços, das nossas absurdas esperanças. Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais."

Michael Cunningham, in 'As Horas'

Friday, February 02, 2007

[poço de claridade


Gosto de imagens... gosto sobretudo do modo como certas imagens falam connosco na primeira pessoa. Coloco aqui muitas vezes imagens que vejo no olhares.com - não numa clara violação dos direitos que são devidos a cada autor mas, acima de tudo, como partilha de certas imagens que precisam ser vistas e sentidas. É o caso desta imagem - Raúl Lourenço chamou a este seu olhar "O poço da claridade" e acerca dela diz ele o seguinte...

"Ténue e movediça é a fronteira entre o puro e o impuro, a luz e as trevas, a espada e o laço. Aqui, ao arrepio dos arquétipos do imaginário, nas profundezas, descobre-se a luz... Resta apenas não temer o impulso para a viagem."