Wednesday, March 29, 2006

Felicidade


















"A felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela.

Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.

E, como menino que era,
achava um grande mistério no seu próprio nome. "

Jorge de Sena, in 'Perseguição'

Tuesday, March 28, 2006

[pétala-a-petála... assim se ilumina uma vida!

Tuesday, March 21, 2006

[Frase do dia]


"I´m not here!"

Thursday, March 16, 2006

Os embondeiros


"De facto, como em todos os planetas, no planeta do principezinho havia ervas boas e ervas daninhas e, logo, sementes boas de ervas boas e sementes daninhas de ervas daninhas. Mas as sementes são invisíveis. Dormem no segredo da terra até que a uma lhe dê para acordar... Então, espreguiça-se e começa a lançar timidamente um rebentozinho inofensivo e encantador em direcção ao Sol. Se é um rebento de rabanete ou de roseira, pode crescer à vontade. Mas mal se perceba que é de uma planta daninha, é preciso arrancá-lo imediatamente. No planeta do principezinho havia umas sementes terríveis... eram as sementes de embondeiro. O solo estava infestado delas. Ora, se só se reparar num embondeiro quando este já for bastante grande, nunca mais ninguém se vê livre dele. Atravanca o planeta todo. Esburaca-o com as raízes. E um planeta muito pequeno com muitos embondeiros acaba fatalmente por explodir. «É uma questão de disciplina», dizia-me, dias depois, o pricipezinho. «De manhã, quando nos levantamos, lavamo-nos e arranjamo-nos, não é? Pois lá também é preciso ir limpar e arranjar o planeta. Há que arrancar regularmente os pés dos embondeiros, mal eles se distingam dos das roseiras com os quais se confundem quando são novinhos. É um trabalho muito aborrecido, mas muito fácil.» E um dia pediu para eu me esforçar tanto quanto pudesse para fazer um desenho mesmo bom capaz de meter uma ideia na cabeça dos meninos da Terra. «Pode dar-lhes muito jeito, se eles forem viajar. Às vezes não faz mal nenhum deixar um trabalho para depois. Mas com os embondeiros, é sempre uma catástrofe. Uma vez fui a um planeta habitado por um preguiçoso. Não esteve para se ralar com três arbustos...». in 'O Principezinho' de A. Saint-Exupéry

Imagem em www.mosquitto.ttverde.com

[Sempre me surpreendo com a sabedoria deste pequeno livro. Numa história aparentemente para crianças, tenho encontrado tantas vezes uma orientação para tantas complicações de "gente crescida"! Às vezes perdemo-nos em tanta filosofia, em tantos dilemas, em tanta demagogia, que nos vamos esquecendo das verdades mais simples e elementares... aquelas despretensiosas ao ponto de passarem desapercebidas... porque três arbustos podem crescer desmesuradamente se não tratarmos deles... porque o que no início pararece apenas um rebento inocente de algo belo pode destruir uma vida... porque se não formos arrumando a casa, o planeta, a vida, as amizades, o pensamento, podemos correr o risco de irmos deixando crescer coisas que no início são fáceis de arrancar mas que, uma vez enraizadas, podem minar o que somos, o que temos, o que fazemos e até o que sonhamos. Perdemos amizades por mal entendidos que não tivemos coragem de resolver, perdemos a saúde por preguiça de pequenos gestos tão simples mas tão eficazes, destruímos relacionamentos por deixarmos acumular pequenos conflitos por falta de diálogo aberto, perdemos oportunidades por comodismo puro, vamos perdendo a integridade por ser mais fácil 'ir cedendo', destruímos o nosso planeta por acharmos que 'é só um papel na estrada', 'são só alguns mililitros de óleo pela torneira', 'é só um saco de lixo e não tenho tempo para separar o papel do plástico', perdemos a alegria por a cada dia nos irmos esquecendo de simplesmente prestar atenção ao que nos rodeia... e pouco a pouco vamos perdendo a esperança ao verificar que fomos deixando os embondeiros crescer ao ponto de nos ocultar o horizonte.

E o pricipezinho queria que todos nos pudéssemos lembrar disso...