Monday, June 13, 2005

19.01.1923 - 13.06.2005

Canção Breve______________________
"Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia."
Eugénio de Andrade

Nunca saberemos que coisas de nós ficam nos outros...
quando a vida se dissolve, que parte do que fomos permanece na memória e na saudade?
Eugénio nunca soube que sempre foi o poeta que mais me disse... nunca soube das tardes em que foi mais que uma companhia.
Foi simples e cristalino... despiu-se das ânsias do drama e dos caminhos tortuosos por onde quase sempre seguem os que desejam densidade que tantas vezes se resume a nevoeiro.
Eugénio foi límpido e serenamente inquietante.
Ensinou-me que não é nos adjectivos que se escondem as qualidades das coisas e foi nas palavras que lhe bebi que aprendi a embriagar os dedos.
Eugénio permanecerá sempre na memória e na saudade porque nos doou esculturas de palavras perenes "e a certeza de que a sepultura é uma cova onde não cabe o coração."

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