Friday, September 23, 2005

By morning you'll be gone-III

"Estranhas são as mortes das pessoas invisíveis, que não deixam nem dor nem saudade nos outros, das pessoas que deixam de existir como se nunca tivessem sido alguém ou estado em sítio algum, que morrem apenas para confirmar uma morte que há muito tinha ocorrido na sociedade. Como o António (ou seria o Joaquim?), um morto que ocupa o lugar central do teatro anatómico. De tempos a tempos sobe da sua estranha sepultura de formol e é a atracção principal dos estudadntes de Medicina. Nos intervalos, vai para o corredor, atrás da porta. Tem uns enormes pés calejados, tal como as mãos, aliás, nem morto esconde a sua condição de indigente, desses que morrem clinicamente muito tempo depois de já estarem mortos, seja no interior de si mesmos, seja na recordação de qualquer mãe que os tenha parido.
A morte é isso mesmo, tem o significado da vida que a antecede.
O escritor José CArdoso Pires chamou «morte branca» à vida sem memória após um acidente vascular cerebral. E os que se apagaram na memória dele, será que sobreviveram? Em quantas ou quais memórias temos de estar presentes para existirmos? E quando falamos da morte, será que falamos só da morte dos que morrem ou, igualmente, da morte de um pouco da nossa própria vida que eles sepultam consigo? A memória de nós e a memória dos outros sobre nós próprios define-nos, afinal, como vivos ou mortos. A morte é o apagar da memória." Constança Paúl, Sobre a Morte e o Morrer in "Psicossociologia da Saúde"

Roubamos uma grande parte da vida dos outros na nossa desmemória.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

tu és dakelas pessoas q tão num lugarzinho especial da minha memória

bjinhos*

September 25, 2005 at 4:35 PM  

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